A maior central solar fotovoltaica em Portugal vai ser inaugurada hoje, sábado 9 de outubro. Localizada em Alcoutim, distrito de Faro, a Solara 4 tem uma capacidade instalada de 220 megawatts (MW) espalhados por uma área descontínua de 320 hectares.

A central localizada em Martim Longo vai ter a capacidade para abastecer anualmente uma cidade com 200 mil habitante, por exemplo, cidades como Braga (181 mil) ou a Amadora (175 mil).

A primeira pedra do projeto foi lançada em 2017, e o projeto contava então com a participação da China Triumph International Engeneering (CTIEC), mas os chineses saíram e o projeto foi concluído pelos irlandeses da WeLink que estão no projeto desde o início.

“A central vai entrar em plena operação nos próximos dias”, disse ao JE Hugo Paz, o diretor da central, explicando que o arranque da produção das centrais solares decorre sempre de forma gradual.

O investimento inicial previsto estava nos 200 milhões de euros, mas a WeLink revela que ficou abaixo deste valor, apontando que o “valor foi otimizado”.

A WeLink chegou a pensar fazer uma entrada em serviço faseada da central: à medida que ia concluindo a construção de blocos, arrancava com a operação destes. Mas essa ideia foi colocada de parte, e a empresa preferiu esperar para arrancar a 100% com a central completamente concluída.

Hugo Paz revela que o “projeto esteve em dificuldades” apontando que a pandemia da Covid-19 “afetou bastante” a construção da central, que esteve interrompida durante algum tempo. “Ninguém sabia o que era o Covid. Decidimos suspender por algum tempo as atividades”.

Esta central não tem direito a tarifas subsidiadas, e foi por isso que quando o preço da energia em março de 2020 afundou, causado pela paragem económica, a WeLink temeu pela rentabilidade do projeto, pois tem de vender a tarifa em mercado. “Isso gerou desconforto para os investidores. Houve um momento difícil. Felizmente, isso foi ultrapassado”, afirma Hugo Paz.

Numa altura em que os preços da eletricidade atingem recordes sucessivos no mercado grossista ibérico, devido à escala dos preços do gás natural e das licenças de emissão de CO2, a WeLink considera que a entrada em operação desta mega-central solar é uma boa notícia. “Esta energia é mais barata, principalmente quando se compara com o gás natural”.

Para o futuro, Hugo Paz considera que a Solara4 “tem potencial para ser melhorada. Há aqui bastante potencial a explorar”.

“O objetivo é melhorar esta central com a incorporação do sistema de armazenagem. Temos de estudar este tema e encontrar o modelo económico ideal”, aponta o responsável da WeLink.

Recorde-se que a WeLink também foi responsável pela construção da Ourika, central solar localizada em Ourique, distrito de Beja, e atualmente a maior central solar em operação em Portugal, com 46 megawatts (MW), e sem o subsídio da produção. A central foi vendida pelos irlandeses em 2018 aos alemães da Allianz Capital Partners.

Questionado se a WeLink está interessada em vender a Solara4, Hugo Paz limita-se a responder que o “ativo é muito apetecível” e que os “mercados é que têm de falar”, rejeitando fazer mais comentários.

A inauguração vai ter lugar às 10h00 deste sábado com a presença do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e do secretário de Estado da Energia, João Galamba.

A Solara4 conta com mais de 660 mil painéis instalados e uma potência de injeção na rede limitada a 200 MVA. A central conta ainda com 40 postos de transformação e 125 inversores com a potência disponível de 1 600 kVA e está “ligada à rede elétrica de serviço público através da Subestação de Tavira, através de uma linha de serviço particular de 400 kV que liga a central à subestação”, disse a Direção-Geral de Energia (DGEG) no comunicado em meados de setembro quando anunciou que a central já tinha obtido a sua licença de exploração. A central obteve uma Avaliação de Impacto Ambiental favorável.

“Este tipo de infraestruturas é essencial para Portugal alcançar o desiderato da promoção da descarbonização do setor energético e contribuí para as metas de energias renováveis previstas alcançar no PNEC 2030, representando mais de 1,3% desse esforço no que se refere à nova capacidade renovável do setor electroprodutor. A sua exploração vai evitar anualmente a emissão de 177 mil toneladas de CO2 e permitirá abastecer de eletricidade o equivalente ao consumo de 200,000 casas”, disse a DGEG em comunicado a 17 de setembro.

 

Fonte: O Jornal Económico